Jovany Medeiros

Jovany Medeiros
Jovany Medeiros

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Vai tomar estatina? Pense um pouco. Talvez seja melhor não tomar.


Eu tenho demonstrado aos meus alunos o risco da prescrição de estatinas devido aos seus graves e frequentes efeitos colaterais neurológicos. Gostaria de dizer que por princípio não tenho preconceitos contra nenhum medicamento convencional. Se houver indicação precisa, e forte evidência científica apoiando a boa prática médica, eu poderia prescrever qualquer substância, inclusive estatinas, embora nunca as tenha prescrito. Por hora, me mantenho cético sobre a utilidade das estatinas.

Vejamos um caso clínico.
“Um paciente de 25 anos faz uma avaliação médica de rotina. Ele nega problemas de saúde e não toma medicamentos regularmente. Diz que seu pai teve um infarto agudo do miocárdio (IAM) aos 36 anos de idade, e morreu de complicações de outro IAM aos 49 anos. O irmão mais velho submeteu-se a exames médicos recentes e teve o diagnóstico de "colesterol alto". Exame clínico: pressão arterial 125x74 mmHg, frequência cardíaca de 72 bpm, peso 82,5 Kg e altura 1,72m. O risco de IAM nos próximos 10 anos calculado pela escala de Framingham foi 2% (http://hp2010.nhlbihin.net/atpiii/calculator.asp - acesso em 18/10/2012)  Exames laboratoriais: colesterol total 362 mg/dL, HDL 36 mg/dL, LDL 266 mg/dL, e triglicerídeos 362 mg/dL.”

Se não houvesse uma intensa e crescente atividade de marketing e propaganda martelando dia e noite o meu cérebro que colesterol alto provoca doença cardiovascular e cerebrovascular, eu não associaria o nível sérico de colesterol  a doença cardíaca ou cerebral. Se alguém me dissesse que essa associação era real, eu poderia responder:  "Espere, porque o nosso organismo iria produzir uma substância tão agressiva para ele mesmo? Como posso compreender esse fato em termos biológicos e evolutivos? Se a teoria da evolução está correta, como a seleção natural contribuiu para que a síntese de colesterol  ocorresse em todos os mamíferos se, aparentemente, essa é uma característica prejudicial?

Como se sabe, o colesterol é o lipídio mais sintetizado pelos mamíferos. A cada dia, nossas células produzem cinco vezes mais colesterol do que nós obtemos na alimentação. Se a ingestão aumenta, diminui a produção endógena. Por isso, é fácil "controlar" os níveis séricos. Não é possível manter o cérebro, os nervos, os músculos sem colesterol. A parede celular seria destruída. Não haveria fluxo de íons e moléculas através das membranas, nem potencial de ação, cérebro e vida, como a conhecemos. Hormônios sexuais e cortisol são sintetizados modificando a estrutura molecular do colesterol. A vitamina D é sintetizada de forma parecida, com ajuda do sol. Se todos esses fatos são verdadeiros (e são)  a lógica seria "quanto mais colesterol melhor".

Então, voltando ao caso, o “colesterol alto” seria de fato a causa da propensão familiar para doença cardiovascular, ou estamos vendo apenas uma correlação? Não se pode negar que as estatinas baixam os níveis séricos dos lipídeos. Mas a questão não é essa. A questão é, serve para alguma coisa baixar os níveis séricos dos lipídeos? Outra questão, qual o preço a pagar, em termos clínico (efeitos colaterais) e econômico. Se nos basearmos na literatura para a prescrição de estatinas não pisaremos em território seguro. O que vamos encontrar é  contradição. Por exemplo, vale a pena ler a Archives of Internal Medicine de 2010;170(12).  Vejam o editorial e dois artigos publicados sobre estatina nessa edição. Eu espero que a leitura lance alguma dúvida em quem prescreve despreocupadamente essa classe de medicamentos. O artigo que possibilitou a liberação comercial da rosuvastatina foi refutado. Outro artigo, uma metanálise, é positivo para o uso de estatina para prevenção de todas as causas de mortalidade.
Os artigos:
Original Investigation. Cholesterol Lowering, Cardiovascular Diseases, and the Rosuvastatin-JUPITER Controversy: A Critical Reappraisal. Arch Intern Med. 2010;170(12):1032-1036.

Review Article: Statins and All-Cause Mortality in High-Risk Primary Prevention: A Meta-analysis of 11 Randomized Controlled Trials Involving 65 229 Participants. Arch Intern Med. 2010;170(12):1024-1031.

Voltando novamente ao caso. Se a decisão para o nosso paciente for prescrever estatina estaremos em uma espécie de campo minado: perigo por todos os lados. Eu não largaria esse paciente. Nos primeiros três meses, eu realizaria exame neurológico mensal para avaliação da função neuromuscular (CPK incluído) e cognitiva.  Estaria alerta para qualquer síndrome da mialgia/artralgia. Avaliaria função renal e hepática regularmente. Posteriormente, a cada três meses repetiria o exame neurológico, sempre com exames laboratoriais (CPK, função hepática e renal) e informaria ao paciente sobre da necessidade de reavaliação caso ocorresse alguma fraqueza muscular, síndrome dolorosa, sensação de "que a cabeça não está boa".  Em resumo, iríamos transformar iatrogenicamente um rapaz saudável em um paciente potencialmente grave. Baseado em uma conjectura. Observe, nem toda pessoa cuj o pai morreu precocemente morrerá precocemente. Em estatística isso se chama regressão à média.

Vejamos outro caso clínico. “Uma mulher de 69 anos foi diagnosticada de "colesterol alto" em fevereiro/2005. Foi prescrito sinvastatina 20 mg ao dia. Após três meses, ela passou a se queixar de dor muscular e artralgia que piorou gradativamente. A dor foi estimada em 8/10 pela escala numérica de dor, e atrapalhava muito as atividades da vida diária. Ela se submeteu a radiografia da coluna cervical e lombar, que mostrou "osteopenia,  alterações degenerativas das vértebras, espondilolistese em C3-C4 e suspeita de pneumonia". Esse resultado justificou a realização de densitometria óssea. A síndrome dolorosa se agravou ao longo dos meses. Ela se sentia cansada e sem forças. Deixou o trabalho. Nessa época, foi feito diagnóstico de artrite reumatóide, complicada por possível neuropatia. Foi prescrito meticorten, arava, duoloxetina, gabapentina , amitriptilina e citoneurin. Além das medicações para "baixar o colesterol e a pressão". Em 2009, submeteu-se a exame neurológico que revelou tetraparesia com predomínio proximal, CPK 566 UI/L. Dor muscular e articular difusa 10/10, nos quatro  membros.”

Nesse caso, vemos uma paciente com miopatia e síndrome dolorosa de mialgia/artralgia secundária ao uso de sinvastatina. A relação entre o quadro clínico e o uso da estatina não foi percebida na época do início dos sintomas neuromusculares, o que precipitou a cascata medicamentosa que nada ajudou a paciente. Era necessário suspender a sinvastatina em 2005.  Há justificativa para prescrição quase compulsória de estatinas para pacientes jovens, de meia-idade, ou idosos, com níveis séricos de colesterol acima dos valores normais? Eu não vejo evidências que justifiquem essa conduta.

O artigo que introduziu a prática de prescrever estatinas em medicina foi publicado na New England Journal of Medicine (NEJM) em 1995 (ver Shepherd et al.Prevention of Coronary Heart Disease With Pravastatin in Men With Hypercolesteroemia. NEJM.1995;333:1301-1307). Esse trabalho tem um grande número de problemas (ver Hadler, NM. Worried Sick. Chapel Hill. The University of North Caroline Press. 2012, 397p para uma ampla revisão crítica do artigo) o menor deles é que foi patrocinado pela Bristol-Meyers Squibb Pharmaceutical Research Institute, proprietária da pravastatina.

Mas vamos ficar na neurologia e analisar outro trabalho mais ou menos recente sobre o uso da atorvastatina (Lipitor) para prevenção secundária de doenças cerebrovasculares (High-Dose Atorvastatin after Stroke or Transient Ischemic Attack.NEJM 2006;355:549-59). Poderia ser qualquer outro, mas para facilitar escolhi um artigo que eu já havia lido.

Os autores examinaram 4731 pacientes de 25 países que tinham sofrido acidente vascular  cerebral (AVC) nos recentes seis meses. Eles dividiram, por sorteio, os pacientes em dois grupos, metade tomou Lipitor 80 mg por dia, e metade tomou placebo. O desfecho primário foi o primeiro AVC, fatal ou não-fatal. O objetivo era baixar o colesterol LDL e ver o que acontecia (desfecho). Os pacientes foram seguidos por aproximadamente cinco anos. Houve recorrência de AVC em  311 (13,1%) pacientes no grupo placebo, e 265 (11,2%) no grupo atorvastatina. Essa diferença foi estatisticamente significante. A redução de risco para AVC no grupo atorvastatina em relação ao grupo AVC  foi de 2,2% em cinco anos. Os autores concluíram que "em pacientes com AVC ou ataque isquêmico transitório recente, sem doença coronariana, 80 mg de atorvastatina por dia pode reduzir a incidência global de AVC e eventos cardiovasculares, apesar de um pequeno incremento na incidência de AVC hemorrágico" (sic).

Para analisar um ensaio clínico devemos considerar a sua veracidade, relevância e aplicabilidade. Em relação à veracidade, tenho restrições a esse estudo. Em minha opinião, nesse artigo há um grave viés. Todos sabem que o uso de estatinas baixa pesadamente os níveis de colesterol sérico. E não seria difícil para os avaliadores saber qual paciente pertence a que grupo observando os resultados do lipidograma. Se o examinador não é cego para as prescrições ele perde a objetividade. No estudo se descreve um artifício para evitar esse viés. "... se o LDL caísse abaixo de 40 mg/dL em um paciente tratado com atorvastatina, o investigador do grupo placebo era notificado, se escolhia ao acaso um paciente desse grupo e os níveis séricos de colesterol eram medidos novamente em ambos os pacientes". No meu entender, esse procedimento não eliminaria o viés.

Outro problema, há várias conclusões definidas por análises secundárias. Por exemplo, no grupo placebo ocorreram mais eventos cardiovasculares (está na conclusão inclusive), revascularização, e incidência de ataques isquêmicos transitórios. Devido ao aumento do erro tipo 1, é melhor desconsiderar conclusões baseadas em análises secundárias. A metodologia não foi elaborada para esses desfechos.
Uma omissão grave. Os autores não discutiram porque ocorreu um percentual maior de mialgia e rabdomiólise no grupo placebo em relação ao grupo tomando atorvastatina. Esse resultado é contra-intuitivo, porque se esperaria exatamente o oposto ( ver Campbell, WW. Statin myopathy: The iceberg or its tip? Muscle & Nerve. 2006;34:387–390). Outra omissão grave. Não se descreveu o nível socioeconômico dos pacientes e a ocorrência de doenças vasculares nos familiares, o que é seguramente um fator de confundimento.  Essas duas variáveis são fatores para maior incidência de doenças vasculares.

Em relação à relevância, nada tenho a criticar. É sempre importante a realização de pesquisas de prevenção de doenças vasculares.
Em termos de aplicabilidade. Os resultados desse estudo me levariam a modificar a minha prática? Eu diria não. Um grande NÃO! Vamos aos dados. No grupo atorvastatina ocorreram 265 (11,2%) AVC, contra 311 (13,5%) no grupo placebo. Uma diferença de 46 casos. Isso nos permite calcular o exato número de pacientes que necessários para tratar por ano (NNT) para obtermos o benefício do uso do atorvastatina em 1 paciente. Esse número é simplesmente a recíproca de 1,9%, e se obtêm dividindo-se 1 pela probabilidade do benefício. No caso, o número que nós queremos é 13,1%-11,9% = 1,9%, em decimal 0,019, dividido por 1, que nos dá o NNT  igual a 52,6 pacientes/ano. Então, teríamos de tratar 52,6 pacientes por ano para termos um presumível benefício. Não há nenhuma vantagem clínica nem econômica.

Por exemplo, ao preço de hoje, na Paraíba, uma caixa de Lipitor com 10 comprimidos custa R$124,89 (www.consultaremédios.com.br/medicamento/lipitor - acesso em 18/10/2012) se gastaria R$4.496,00 por ano, por paciente para manter o tratamento. Os efeitos colaterais graves levariam a exames médicos de controle e seguimento que encareceriam o tratamento. Sem levar em conta a dubiedade dos resultados expressada nos trabalhos científicos.

Outro problema sério com esse estudo é o conflito de interesses, incontornável em minha opinião. A NEJM, que deve ter ganho muito dinheiro com a venda de separata do artigo, no mundo todo, em várias línguas, tratou logo de dirimir a sua responsabilidade (o que é impossível) acrescentando uma nota afirmando que os oito autores assumiam ampla responsabilidade pelo conteúdo global e integridade do artigo.

Aqui está um fato curioso. Vamos conhecer quem são os autores. Pois bem, dois são empregados e acionistas da Pfizer, a empresa proprietária do Lipitor; quatro outros receberam proventos da Pfizer. Isso abre a porta para todas as formas de parcialidade, consciente e inconsciente. Para mim, a vinculação dos autores à Empresa patrocinadora desqualifica o trabalho. Sendo assim, por que ir adiante e não jogar logo no lixo trabalhos desse tipo?  Por que em seguida à publicação do artigo é que  começa a parte verdadeiramente quente, a propaganda e marketing para vender o remédio (ver Angell, Marcia. The truth about the drug companies. New York. Random House, 2004, 352p.). Nós precisamos saber disso para que não a nossa prescrição baseada em propaganda. Seguramente, em um próximo Congresso a indústria organiza um Simpósio, esses resultados são apresentados acriticamente por um expositor bonito e bem falante. Se ele convencer, digamos, 100 neurologistas a prescrever Lipitor para, vamos dizer, cinco pacientes em um ano, o custo com a medicação será de R$2.248.000,00/ano para todos os pacientes. Prescrição baseada em um estudo controverso, clinicamente e eticamente.

Os artigos citados podem ser resgatados realizando pesquisa avançada no Google escrevendo a frase “Pubmed single citation matcher”. Escreva o nome da revista, o ano, o volume e a primeira página do artigo. Não é necessário escrever o nome dos autores  (Uffe Ravnskov. Ignore the Awkward. 156p.)

sábado, 12 de novembro de 2011

Campeão do II Campeonato de Xadrez de Veteranos do Nordeste - 2011

Realizou-se entre 4 e 6 de novembro de 2011 em João Pessoa - PB o II Campeonato de Xadrez do Nordeste, categoria acima de 50 anos. Estive ausente desse tipo de competição por cerca de 10 anos. E há dois anos, voltei a jogar por influência de dois amigos, Evandro Rodrigues e Paulo Barbosa. Bem, depois que voltei a disputar  torneios de xadrez, esta foi a primeira vez que me preparei com certo afinco. Fiz um dossiê das partidas dos prováveis adversários e antes de cada partida estudei as variantes de aberturas que poderiam ser jogadas, já conhecendo mais ou menos o estilo do jogadores. Esse trabalho rendeu, porque fui o campeão. A reportagem sobre o torneio está no excelente blog do Prof. Fernando Melo, no  endereço: http://reinodecaissa.blogspot.com/2011/11/premiacao-de-jovany.html. As informações técnicas do campeonato podem ser visualizadas em chess results: http://chess-results.com/tnr59376.aspx?lan=10. Foram 24 jogadores, de seis estados. Os 14 primeiros classificados estão relacionados na tabela abaixo.
  

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Testes para diagnóstico diferencial de dor radicular nos membros inferiores


Doenças de vísceras abdominais, pélvicas, síndromes dolorosas músculo-esqueléticas e lesões de raízes lombossacras podem causar dor nos membros inferiores (MMII). Nas duas primeiras condições fala-se de  "dor referida". Na terceira de "dor radicular". A dor radicular é causada por discopatias, estenose do canal vertebral, lesão ocupando espaço na coluna espinhal, e se associa a perda de reflexos, diminuição da força muscular e alterações da sensibilidade. Uma das funções do neurologista é realizar o diagnóstico diferencial (DD) entre dor referida e dor radicular. Nos MMII, três testes são comumente usados no DD entre dor radicular e dor referida: o teste da elevação da perna estendida, o teste de Lasègue e o teste de Bragard, que devem ser realizados no contexto do exame neurológico e não como procedimentos isolados. 

Teste da elevação da perna estendida.
Paciente em decúbito dorsal. Com a mão mantida na região posterior do tornozelo o examinador eleva o membro inferior até 90º., ou até ocorrer dor, o que surgir primeiro. Esse teste traciona as raízes L5-S1-S2, principalmente entre 35º. e 70º., e emula a dor radicular. Figura 1.
Teste de Lasègue.
Com o paciente em decúbito dorsal, o examinador flexiona o quadril com o joelho em flexão. Mantendo o quadril flexionado, então estende o joelho. O teste é positivo para dor radicular se não houve dor com o quadril e joelho fletido e se ocorrer dor com o quadril fletido e o joelho estendido.
Ver figuras 2A e 2B.
Teste de Bragard.
É um teste de confirmação de radiculopatia após a realização dos testes da elevação da perna estendida e do teste de Lasègue. Proceda como no teste de elevação da perna estendida, quando o paciente queixar-se de dor, abaixe a perna 5º. e faça a dorsoflexão do pé. Se houver radiculopatia, ocorre dor.  Ver figura 3.

Referências.
Bradley, WG et al. - Neurology in Clinical Practice, 2a. ed. Butterworth-Heineman. Boston, capítulo 35, p.433-445, 1996.
Cipriano, JJ - Manual Fotográfico de Testes Ortopédicos e Neurológicos. 4a.  ed. Editora Manole. Barueri. 497p, 2005.
Fuller, G. Neurological Examination Made Easy. Churchill Livingstone. Ediburgh. 220p. 1993.  

Figura 1. Teste da elevação da perna estendida.

 Figura 2A. Teste de Lasègue.
 Figura 2B. 
 Figura 3Teste de Bragard.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Os mais de 100 memoráveis filmes que eu vi

Todos os filmes listados deixaram em mim alguma memória. Sempre boa. A maioria, eu assisti mais de uma vez. Alguns, eu assisti muitas vezes. Listo poucos filmes atuais, porque eu acredito que cinema é uma arte esgotada. Não no sentido que não se possam fazer bons filmes, mas que todas as ideias originais  já foram utilizadas. A sequência apresentada tem apenas uma lógica, a minha memória.
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1) Casablanca - 1942 - Michael Curtis.
Tudo dá certo nesse filme. A cena final, escolhida entre outros possíveis finais, gera polêmica. Como continuou a vida de Rick e do Capitão Renault?

2) Um corpo que cai - 1958 - Alfred Hitchcock.
A beleza de Kim Novak. Bela trama.

3) O poderoso chefão I - 1972 - Francis Ford Coppola.
A arte de contar uma história.

4) O poderoso chefão II - 1974 - Francis Ford Coppola.
A sequência lógica da primeira história. Todos queriam saber algo mais sobre a família Corleone.

5) O homem que matou o facínora - 1962 - John Ford.
Uma história de amor, principalmente. O que não fazemos por nossas amadas? Resposta: fazemos tudo e mais alguma coisa.

6) Em busca do ouro - 1925 - Charlie Chaplin.
Um dos filmes mais citados. Vejo em muitas comédias atuais cenas desse filme.

7) O falcão maltês - 1941 - John Huston.
A explicação final de Sam Spade do porque ele não ajudará Brigid O'Shaughnessy a escapar da prisão é muito convincente.

8) Cantando na chuva - 1952 - Gene Kelly, Stanley Donen.
Em minha opinião, a atuação mais brilhante é de Jean Hagen.

9) Ninotchka - 1939 - Ernst Lubitsch.
Por acaso, você viu a cena da suruba?

10) Luzes da Cidade - 1931 -  Charles Chaplin.
A delicadeza. O riso. A lágrima. Tudo de forma sutil e cativante.

11) Apocalipse Now - 1979 -  Francis Ford Coppola.
Coronel Kurtz, o mais sombrio personagem do cinema. Criação de Brando ou de Copolla?  

12) Os bons companheiros - 1990 - Martin Scorsese.
Um tipo de amizade que só pode ser resolvida a bala.

13) Fargo - 1996 - Joel Coen.
Caipiragem geral, detectada por alguém que sabe ler as ações dos homens.

14) Como Era Verde Meu Vale - 1941 - John Ford.
Reminiscênciaa sobre a infância.

15) Quanto mais quente melhor - 1958 - Billy Wilder. 
Marilyn Monroe em toda a sua arte. Canta, dança e interpreta.  

16) Tempos modernos - 1936 - Charles Chaplin.
A cena inicial é cinema puro. Cinema não necessita de palavras, exceto nos filmes de Woody Allen.

17) Adorável Pecadora - 1960 - George Cukor.  O clip mais belo do cinema. Marilyn cantando “my heart belongs to daddy”, de Cole Porter.

18) Tootsie - 1982 - Sydney Pollack.
Minha cena favorita é quando Michael Dorsey encontra Julie Nichols em uma festa... Eu sinto que o personagem de Bill Murray não seria necessário.

19) Blade Runner (O caçador de andróides) - 1982 - Ridley Scott.
O título em português quase mata o filme. O único filme de ficção científica que consigo assistir.  

20) Aconteceu naquela noite - 1934 - Frank Capra.
Minha cena favorita é a da carona. Peter Warne sobre Ellie Andrews "ela é a minha ideia de nada"

21) A felicidade não se compra - 1946 - Frank Capra.
Se você não existisse como seria o mundo?

22) Psicose – 1960. Alfred Hitchcock.
Tirando a tagarelagem do fim do filme, tudo o mais é perfeito!

23) Os Reis do iê, iê, iê - 1964 - Richard Lester.
Raro em cinema pós anos 30. Esse filme foi feito de um jeito totalmente novo.

24) Núpcias de escândalo - 1940 - George Cukor.
Cary Grant, James Stewart, Katharine Hepburn. Precisa mais?

25) Picolino - 1935 - Mark Sandrich.
Fazer barulho em quarto de hotel pode atrair gente interessante.

26) A roda da fortuna - 1953 - Vicent Minelli.
Duas cenas antológicas de Fred Astaire: a dança com o engraxate, e a dança no Central Park com Cyd Charisse e Fred Astaire. Dois craques.  

27) Se meu apartamento falasse - 1960 - Billy Wilder -
Esse filme não é uma comédia, como anunciam.

28) Crepúsculo dos Deuses - 1950 - Billy Wilder.
Uma desempenho maravilhoso por Gloria Swanson.

29) A primeira página - 1974 - Billy Wilder.
O diretor não gosta desse filme. Eu acho que é o melhor entre tantos que foram filmados a partir da peça de Hecht-MacArthur. Ver nesta lista "Jejum de amor".  

30) A ponte sobre o Rio Kwai - 1957 - David Lean.
Um filme sobre a arrogância.

31) O último tango em Paris - 1973 - Bernardo Bertolucci.
Iconoclasta. O melhor desempenho de Marlon Brando. A beleza de Maria Schneider.

32) Minha Bela Dama - 1954 - George Cukor.
A bela dama é Audrey Hepburn. E isso basta!

33) O mágico de Oz - 1939 - Victor Fleming.
Na época ninguém acreditava que aquela voz era daquela menina, Judy Garland.

34) 2001:Uma odisséia no espaço - Stanley Kubrick.
Um filme de um mestre. O monólogo de Hal.  

35) A Noviça Rebelde - 1965 - Robert Wise.
Cinema é a arte do entretenimento. Esse filme é entretenimento ao máximo.

36) Interlúdio - 1946 - Alfred Hitchcock.
Grande tensão nesse filme que tem drama, suspense e romance. A ação se passa no Rio de Janeiro e tem a ver com espionagem na II guerra mundial.

37) Matar ou Morrer - Nicholas Ray.
O sentimento do xerife Will Kane é o mesmo de um paciente terminal, plenamente consciente do seu destino.

38) E o vento levou - 1939 - Victor Fleming.
Um filme que confirma a velha máxima: “na guerra não há vencedores”.

39) O encouraçado Potemkin - 1925 - Sergei Eisenstein.
Seminal. Assista a esse filme e se divirta procurando citações em filmes posteriores.

40) Pixote - 1981 - Hector Babenco -
Há alguma atriz como Marília Pêra? Resposta, não.

41) O Discurso do Rei – 2010 - Tom Hooper.
Contada com sensibilidade, A história de uma incapacidade real.

42) Intriga internacional - 1959 - Alfred Hitchcock.
Quem pode esquecer a cena do avião?

43) Desfile da Páscoa - 1948 - Charles Walters. 
Fred Astaire demonstra a sua musicalidade na cena inicial.  

44) Forrest Gump, o contador de histórias – 1994.
Robert Zemeckis. As histórias de um homem limitado, movido por uma poderosa força, o amor por Jenny.

45) Hombre - 1967 – Martin Ritt.
Pessoas respeitáveis devem ser tratadas como qualquer outra pessoa. Do jeito que Hombre faz.  

46) O Anjo Azul - 1930 - Josef Von Sternberg.
A história do lento desmoronamento de um homem. A bela Marlene Dietrich.

47) Gilda - 1946 - Charles Vidor.
Dois clips antológicos, Rita canta “Amado Mio” e "Put the blame on Mame." Johnny Farrell sobre Gilda: "eu a odeio, e não consigo ficar sem pensar nela por um minuto".

48) Agora seremos felizes - 1944 - Vicente Minelli.
A alegria do primeiro amor.

49) Nasce uma estrela - 1954 – George Cukor.
O melhor filme de Judy Garland, adulta.

50) Gigi - 1958 - Vicente Minelli.
Ninguém é mais delicada, espirituosa e amiga do que Gigi.

51) Os brutos também amam - 1953 - George Stevens.
Esse filme nos ensinou. Uma bala só é suficiente para matar.

52) Rastros de Ódio - 1956 - John Ford.
O preconceito é forte, mas pode ser vencido.  

53) Era uma vez no Oeste - 1968 - Sergio Leone.
Parece-me o último grande faroeste.

54) Um dia em Nova Iorque - 1949 - Stanley Donen. Gene Kelly.
Em NY não se precisa de dinheiro para se divertir.

55) Mississipi em chamas - 1988 - Alan Parker.
Caipiras instrumentalizados por uma ideologia qualquer são capazes de tudo.

56) A última diligência - 1939 - John Ford.
Lembrem-se, o objetivo de uma viagem é chegar. Se há previsão de transtornos chamem Ringo Kid.

57) Festim Diabólico  - 1948 – Alfred Hitchcock.
Todo o filme é feito é um só plano sequência. Grande suspense.  

58) Anatomia de um crime - 1959 -  Otto Preminger.
Grande filme de tribunal. O cartaz do filme é considerado um dos melhores já feitos. E ainda tem Duke Ellington.

59) Noites de Cabíria - Federico Fellini.
Cabíria é uma gueixa ocidental.

60) O bebê de Rosemary - 1968 - Roman Polanski.
O amor filial é incondicional.

61) O bom, o mau e o feio - 1966 - Sergio Leone.
O bom é mau. O mau é mau. O feio é mau.

62) Bird - 1988 - Clint Eastwood.
Para quem quiser conhecer Charles Parker e sua música esse filme vale + que um  livro de 1.000 páginas.

63) Juventude transviada - 1955 - Nicholas Ray.
James Dean é Jim Stark.  

64) Cabaret - 1972 - Bob Fosse.
O melhor do filme: Liza Minelli e Joel Grey.

65) Pacto de Sangue - 1944 - Billy Wilder.
Segundo Noel Rosa, não se deve confiar nas mulheres. O que eu não concordo. A priori, eu confiaria até em Phyllis Dietrichson.

66) Sinfonia de Paris - 1951 – Vincente Minelli.
Primeiro filme de Leslie Caron, até onde eu saiba. A cena do balé é de tirar o fôlego.

67) Um estranho no ninho – 1976 – Milos Forman.
A intolerância é o tema dessa parábola moderna.

68) Passageiro, profissão repórter - 1975 - Michelangelo Antonioni. A cena da câmara na janela. Vez em quando eu me pego relembrando.

69) A mulher faz o homem - 1939 - Frank Capra.
Não se pode subestimar a capacidade de ninguém em aprender e decidir por si mesmo.

70) Janela Indiscreta - 1954 - Alfred Hitchcock.
O que você faria se fosse testemunha de um comportamento que sugerisse uma leve suspeição de assassinato? Não faça como James Stewart. Um em um milhão acerta.

71) Amadeus - 1984 - Milos Forman.
Historicamente está tudo errado. Mas apresentar a música de Mozart é compensação bastante.

72) Tarzan e sua companheira – 1934 – Cedric Gibbons, Jack Conway.
Maureen O’Sullivan belíssima. O mais erótico dos filmes.

73) Pacto Sinistro – 1951. Alfred Hitchcock.
Bruno é um grande personagem. Fez um pacto unilateral e exige que se cumpra.

74) Sem destino - 1969 - Peter Fonda.
Houve uma época que todo mundo queria ser como Wyatt. O Jack Kerouac do cinema.

75) O Diabo a quatro - 1933 - Leo McCarey. 
A cena do espelho é a mais engraçada de todas as comédias.  

76) Levada da breca - 1938 - Howard Hawks.
A interpretação de Cary Grant determinou um padrão, que foi usado por Tony Curtis, Ryan O’Neal, etc.

77) Cinema Paradiso - 1988 –Giuseppe Tornatore.
Nós não tínhamos amizade com o projetista do cinema da cidade, mas vez em quando conseguíamos uns pedaços de fitas.

78) A costela de adão – 1949 – George Cukor.
Viva a diferença!

79) A loja da esquina - 1940 - Ernst Lubitsch.
Esse filme é como uma sonata. Apresentação. Conflito. Resolução. Formato perfeito.

80) Stalag 17 - 1953 - Billy Wilder.
A história de um “conman” em tempos de guerra.

81) Testemunha de Acusação - 1957 - Billy Wilder.
Não se pode escrever uma trama melhor.

82) O pecado mora ao lado - 1955 - Billy Wilder.
O título em português é melhor do que o título em inglês. O pecado é Marilyn Monroe. A maior de todas.

83) Sabrina - 1954 - Billy Wilder. Um conto de fadas.

84) A montanha dos sete abutres - 1951 - Billy Wilder.
Não consigo assistir esse filme outra vez. É extremamente violento.

85) Jejum de amor - 1940 - Howard Hawk.
Rosalind Russel mergulha sobre as pernas de alguém e as segura firmemente. Num exemplo de bom jornalismo.  

86) A beira do abismo - 1946 - Howard Hawks.
O título em português não diz nada sobre o filme.  Philip Marlowe investiga uma chantagem.

87) Faça a coisa certa - 1989 - Spike Lee.
Tudo no filme conflui para as cenas do conflito final.   

88) Ladrões de bicicleta - 1949 - Vittorio De Sica.
A história de uma trágica perda.

89) Lili - 1953 - Charles Walters. 
Quem não conversa com os seus 'bichinhos'?  

90) A fúria - 1936 - Fritz Lang.
Aldous Huxley disse algo assim, “a forma mais agressiva de violentar alguém é juntá-lo a uma multidão”.

91) Marty - 1955 - Delbert Mann.
Cada um de nós tem algo de belo. Basta apenas alguém especial para perceber.

92) A primeira noite de um homem - 1967 - Mike Nichols.
História legal. Adicionalmente, temos a música de Paul Simon.

93) A sombra de uma dúvida - 1943 -  Alfred Hitchcock.
Se diz que esse era o filme que Hitch mais gostava.

94) Nascida ontem - 1950 - George Cukor.
Se há oportunidade, nós humanos aprendemos e sabemos o que é melhor para nós mesmos.

95) Amor, Sublime Amor - 1961 - Robert Wise.
Romeu e Julieta no subúrbio de Nova York.

96) Ensina-me a viver - 1972 -  Hal Ashby.
Maude sabe como tratar as pessoas. Podemos aprender com ela.

97) Victor ou Victória - 1982 - Blake Edwards.
A necessidade é a mãe de toda sabedoria. Foi Platão quem disse isso? Bem, é o 'gancho' desse filme.

98) A Mulher do Dia - 1942 - George Stevens.
Sam Craig sente que Tess Harding sua esposa é brilhante demais. E reage. 

99) Bom dia, Vietnã - 1987 - Barry Levinson.
O único filme de Robin Williams em que eu não fico impaciente com as caretas dele.

100) Vinhas da Ira - 1940 - Jonh Ford.
Um épico americano.

101) Paixão dos Fortes - 1946 - John Ford.
Às vezes, eu tenho inveja de pessoas que ainda não viram certos filmes porque vão ter a oportunidade de se maravilhar ao assisti-los. Paixão dos fortes é um desses filmes.

102) Amacord - 1973 - Federico Fellini.
“A horta da Luzia” de Federico Fellini.

103) Dona Flor e seus dois maridos – 1976 - Bruno Barreto.
Sônia Braga nunca esteve tão bela.

104) Cidadão Kane – 1941 – Orson Welles.
A história é contada de forma original e não linear. É cheio de simbolismos. Cidadão Kane está em quase todas as listas de melhores filmes. É memorável inclusive por esse fato.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Abelardo e Heloísa

Abelardo era o professor de Heloísa quando eles se apaixonaram. Hoje, isso seria visto como um abuso de poder pelos politicamente corretos. Os parentes de Heloísa acharam que a relação era econômica e moralmente insustentável. Mas não havia argumentos para dissuadir Heloísa. Abelardo, um homem brilhante, era invencível na argumentação. Em desespero, os parentes de Heloída, exercendo um tipo de crítica radical, castraram Abelardo. Depois disso, Heloísa condenou-se à reclusão de um mosteiro. Abelardo resignou-se à vida eclesiástica e à filosofia. Mais tarde, eles se reencontraram. Um reencontro cálido, platônico, civilizado. Não falaram nada, além de cumprimentos formais. Cada um continuou a viver a sua vida. Ela freira, ele  padre. Que mais poderiam fazer?

Adão e Eva

Adão e Eva. O casamento deles foi arranjado. Nessa época, não existia a psicanálise, nem os modernos métodos educacionais das escolas católicas e islâmicas. Por isso, os filhos de Adão e Eva tiveram grandes problemas. O primogênito, Caim, era truculento e não muito brilhante. O caçula, chamado Abel, ambicioso e sem escrúpulos, comprou por uma ninharia o direito a ser o primogênito. Percebendo a tolice que fez, Caim propôs desfazer o negócio, mas Abel não quis nem ouvir falar nisso. Como todos sabem, Caim matou Abel.
O primeiro assassinato. A reação dos pais, até onde se sabe, pelo único registro que restou, foi de indiferença.