Jovany Medeiros

Jovany Medeiros
Jovany Medeiros
Mostrando postagens com marcador Bertrand Russel. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Bertrand Russel. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 31 de março de 2008

Cuidado! Pode-se provar que qualquer coisa é verdadeira a partir de uma falsa premissa.

Durante uma palestra, Bertrand Russel afirmou não ser possível romper as regras da matemática sem conseqüências desastrosas. Uma vez que uma afirmação matemática falsa fosse introduzida, podia-se provar qualquer coisa. Nesse ponto, uma voz na platéia o interrompeu: “se dois vezes dois são cinco eu sou o Papa. Prove isso.” Sem titubear Russel respondeu: “se dois vezes dois são cinco, então quatro é igual a cinco. Subtraindo três de cada um dos lados, temos que um é igual a dois. Como o senhor e o Papa são dois, temos que o Sr. e o Papa são um.”

In: Strathern, P. –Bertrand Russel em 90 minutos. JZE, 2003

domingo, 16 de março de 2008

Pelo que eu tenho vivido.

Bertrand Russel escreveu este prólogo à sua autobiografia próximo dos 90 anos de idade. Além da própria beleza, o que me impressiona no texto é a coerência entre idéias e ações: a vida de Bertrand Russel foi o que aqui ele resume.


What I Have Lived For / Pelo que eu tenho vivido

"Three passions, simple but overwhelmingly strong, have governed my life: the longing for love, the search for knowledge, and unbearable pity for the suffering of mankind. These passions, like great winds, have blown me hither and thither, in a ayward course, over a great ocean of anguish, reaching to the very verge of despair.

I have sought love, first, because it brings ecstasy - ecstasy so great that I would often have sacrificed all the rest of life for a few hours of this joy. I have sought it, next, because it relieves loneliness - that terrible loneliness in which one shivering consciousness looks over the rim of the world into the cold unfathomable lifeless abyss. I have sought it finally, because in the union of love I have seen, in a mystic miniature, the prefiguring vision of the heaven that saints and poets have imagined. This is what I sought, and though it might seem too good for human life, this is what--at last--I have found.

With equal passion I have sought knowledge. I have wished to understand the hearts of men. I have wished to know why the stars shine. And I have tried to apprehend the Pythagorean power by which number holds sway above the flux. A little of this, but not much, I have achieved.

Love and knowledge, so far as they were possible, led upward toward the heavens. But always pity brought me back to earth. Echoes of cries of pain reverberate in my heart. Children in famine, victims tortured by oppressors, helpless old people a burden to their sons, and the whole world of loneliness, poverty, and pain make a mockery of what human life should be. I long to alleviate this evil, but I cannot, and I too suffer.

This has been my life. I have found it worth living, and would gladly live it again if the chance were offered me."
Bertrand Russel.


“Três paixões simples, mas irresistivelmente fortes, governaram a minha vida: o desejo pelo amor, a busca do conhecimento, e uma indescritível misericórdia pelo sofrimento humano. Essas paixões, como se eu estivesse em uma grande tempestade, levaram-me daqui para ali, em um curso incerto, por um grande oceano de angústia, às vezes tocando as bordas do desespero.

Eu procurei o amor, primeiro porque ele traz êxtase, tão grande êxtase que, freqüentemente, eu sacrificava tudo o mais por umas poucas horas dessa felicidade. Eu procurei o amor, também, porque ele alivia a solidão, essa solidão terrível, na qual se sente a consciência se esvair, como se estivesse nos confins do mundo, em um abismo frio, fantamasgórico e sem vida. Finalmente, eu procurei o amor porque nele vi, em uma mística miniatura, a visão pré-figurante dos céus que santos e poetas imaginaram. É o que procurei, e, penso, que o amor poderia ser bom para a vida humana. Isto é o que, por fim, encontrei.

Com igual paixão eu procurei o conhecimento. Eu desejava conhecer o que se passava no coração dos homens. Eu desejava saber porque as estrelas brilhavam. Eu tentei aprender a força Pitagórica pela qual os números mantêm-se firmes, acima do fluxo. Um pouco disto, mas não mais, eu consegui.

Amor e conhecimento, tanto quanto foi possível , levaram-me para frente, até aos céus. Mas, sempre, a piedade me trazia de volta à terra. Ecos de choro e de dor reverberavam em meu coração. Crianças famintas, vítimas torturadas por opressores e a dor, faziam da vida humana um arremedo do que ela poderia ser. Eu desejava aliviar esse mal, mas não pude e, por isto, sofri.

Essa tem sido a minha vida. Eu achei valiosa vivê-la e, alegremente, a viveria outra vez se a oportunidade me fosse oferecida.”